Determinações sem vida fazem surgir vida em mim. A vida é a suposição que existe um mundo para a vida, não para o ser. Mas o ser é um mundo inexistente sem escolha. O céu descobriu o amanhecer interior, tão real quanto o céu. O mundo não amanhece, amanheço por ele. Vejo a vida pela indiferença do nada. A indiferença é o amor existindo sem o ser, apenas a falta de amor pode resgatar o meu ser da vida. O tempo distancia a alma do mundo por amor. A distância despedaçada no olhar vazio. Nada separa a alma do querer da morte. Consigo ver a eternidade sem morte pela eternidade de morrer, que modificou tudo que vivi um dia. Se tudo fosse consciência do nada, como o nada existe na consciência de si mesmo? Eu posso ter consciência do nada, vivi o nada, o amei. Mas o que o nada fez para ter consciência de si? Sua consciência não é uma conquista, mas é uma derrota. Eu venci a consciência do nada. O nada é diferente de nada ser. Nada significar é o sentido da vida. Para ter significado tem que perder a alma, como se fosse perder alguém para o amor que sinto. Não estou dentro de mim quando me encontro. A alma é um encontro com a morte ruim, a alma boa é o ser. O espírito refaz a alma com o ser. O ser do espírito é o perdão. A morte é o conhecer eterno. Apenas a morte compreende meu ser. O tempo esclarece o céu sobre eu viver. Grudada em mim para nascer como a vida nasce: de uma poesia. O nada são todos os momentos juntos. Viver é a solução do nada, não para o ser. Para o ser, a vida é um caos, um problema. Pode cessar meu amor, mas a mim não. O ser, para se separar do nada, teve que ser o nada. Para o nada, vida eterna, para mim, morte. O fim é o nada a viver, mais reconfortante do que as lembranças irreais e as reais de mim. Quem lembra não pode ter o nada. O nada tudo pode, pode até se tornar uma lembrança. Ausência, lembrança eterna de depois. A lembrança do depois surgiu antes de acontecer. O amor ama o nada. O cessar de existir encontrou seu caminho, amando mais que o amor. Tem momentos inexistentes, que são a vida pelo amanhecer. Como a alma amanhece solitária, não sou só. Só é o vento sumindo no eco do nada. O infinito é a perda da voz do nada, que ecoa na alma. O infinito existe por sermos todos capazes de amar. Para o tempo, o fim e o infinito são a mesma coisa. Acredito no infinito mais do que na vida. A vida é o meu infinito. O mundo não quer o infinito, quer ser ele mesmo no seu fim.