Não adianta sair do meu corpo, ele está em mim, sem o meu ser. Apenas no fim a falta me liberta do abismo. Ser é o abismo que se divide no ser. Para o ser, o abismo é apenas o infinito, sem nenhum ser. A alma são todos e nenhum. Nenhum sol, nenhum vestígio da alma, para a lucidez do tempo, que enlouqueceu sem alma. Escuto o tempo em mim, como um som vazio, sem lembranças, apenas teus passos fugindo de andar. Abrir caminhos para andar sem passos. Nada há para esquecer, solidão são apenas palavras. Palavras são o ser no ser. Pelo ser, o tempo não existe. É preciso perceber a ausência como o tempo que se foi. A perda do nada resgata o tempo como perda da morte. A perda, sozinha, é a morte. Nada na perda lembra as minhas perdas. Será que sou a perda do que não existe? A inexistência une as pessoas. O nada é continuação da vida. Mas esse continuar é o fim do ser. O ser não ser parece com ele mesmo, se parece com a vida. O que age sobre mim não me deixa morrer, onde cessa o agir sobre mim, por agir em mim, como resto de mundo guardado dentro de mim. Está guardado onde me esqueci me guardando pro mundo.