Meu pensamento, alheio a mim, pensa em mim, se dispersando no nada, que é além da vida, da morte. Lembrar, esperança cheia de doçura, apaga o vento com o sol. O falar não dialoga, reduz falar, assim como o mar encontra o sol, como o olhar encontra a luz. A realidade não se determina em nada, então a vida vive de poesia. O amor é um recomeço sem começo. Eu podia passar a vida olhando o nada como se visse a vida. Quando escrevo, a vida existe. Me assemelho à vida quando escrevo. Não há semelhança que se compare à vida. Quando escrevo, meu único amor é a morte? Há mais liberdade do que amor no sentimento. Pelo meu ser, nada faço; pelo amor, tudo faço, e é como se eu fizesse por ti, te amasse, alegria, não sei se te amo. A alma somente me dá dor. O ser não é pelo ser, é pelas coisas da vida. As coisas da vida não podem ocupar o lugar do meu ser. Há mais coisas na vida do que no ser. Meu ser tenta se ver no que lhe falta. Tudo acontece, sem que eu modifique a falta. A vida é uma falta, que nunca é preenchida no meu ser. Falta ausência no meu amor. A vida é a ausência do meu amor. Amo apenas para existir, sofrer? Nunca saberei. A vida levou o melhor de mim, sem ausências, dores. Do tempo, nasceu o vazio, distante de mim, de Deus, do amor que lhe dediquei. Parece o tempo morrer, sou a sombra que ilumina o tempo.