Blog da Liz de Sá Cavalcante

Desgraça

O amor não se reduz à proximidade da alma. A alma é uma maneira de ficar perto de mim, enquanto ainda há realidade em sentir. A alma sou eu comigo. A alma é o meu outro eu. Meu ser não sabe que imagem ter. Deixo a imagem de ser longe da minha imagem. Minha imagem não é para ser vista, é para ser sonhada. Sonhada como se fosse qualquer imagem perdida no horizonte, sem sol, chuvas, apenas pedras. Pedras por onde andar com minhas lembranças. Morte, a moldura do teu rosto é a vida, não te vejo como é. A alma, quente por morrer. Se eu definir a tristeza como um sentimento, e não como isolamento da alma, ela será mais infinita do que a vida. O sangue da morte se desmancha de amor, faz o tempo não se diluir na morte. O diluir é a vida e o sonho construindo-se por eles mesmos. É inacreditável, sou meu próprio sonho. Sou a mesma sem a vida, ela não me faz ser, me faz apenas pertencer ao nada. Como gostaria de ser esse nada na forma de aflição, mas quando olho para o sol, não me importo de existir apenas o nada em mim. Pergunto-me de onde vem tanta luz, fascínio: vem do nada de mim.