Na rouquidão dos instantes, os instantes não são vazios nem solitários, pois não sei o que o outro pensa. Os instantes preenchem o nada, o vazio. Ninguém quer ser apenas um instante de vida. O tempo quer morrer; o vazio, o nada, já morreram: e essas perdas não me fazem viver de instantes. A rouquidão dos instantes me fez perder a voz num lindo sorrir de amor. Cada amor foi perdido sem a rouquidão dos instantes. Tenho que fazer da fala dos instantes a minha rouquidão. Entre o falar e o não falar, existe a rouquidão dos instantes, que não pertence à fala ou ao silêncio, pertence apenas às palavras. A palavra é um ser. Palavra é tocar a alma, torná-la concreta com o meu tocar. Tocar a alma no vazio de ser, como as palavras que as preenchi, por respirar as palavras que não são palavras: são amor. O amor, perfeição do mundo, da arte. O dom é expressar livremente no que sou. A falta permanece como alma, mas a alma não são faltas: é uma plenitude, preenche a vida. Longe do fim, perto de Deus. A falta é como descobrir o nada no que me falta. Almas tentam viver, fingindo existir, mas, em algum momento, a alma tem que se entregar à morte. Desde então, não vivo. O tormento é a explicação da vida. Deixa as flores, o mundo, os animais, as pessoas se entenderem pra cuidar de nós. Nem tudo são flores. Mas, às vezes, coisas boas me deixam triste. A fé é a morte da ilusão pela realidade da fé. A fé entristece a alma. Tudo que desfaz a alma está morto como a alma. A alma cessa quando ama, por isso não adianta tentar matar a alma. O silêncio é sem alma. Ter alma é não dizer adeus como digo alma. O interminável da alma é o fim que não sinto, ninguém sente. Quero, por isso, morrer com os olhos abertos para a alma.