Blog da Liz de Sá Cavalcante

A desgraça de ser feliz

Não preciso compreender que minha aparência é o que sobrou da vida, desde que a aparência se desfez em lágrimas. Fui feliz apenas para não ter aparência. Um dia quis ter aparência como se a vida pudesse me esquecer pela minha aparência. A vida cessa rápido, em várias aparências. A aparência é a morte. Há mais alma na morte do que no ser! Sou a maior vitória da aparência. Em mim, a aparência cessa para eu querer ter aparência. Foi ao abraçar a morte que me senti viva, ficando na aparência desse abraço, até que seja possível que eu exista mais pela morte do que por mim. Ser feliz é morrer. A aparência da aparência não é morrer. Aparência da aparência é a falta do olhar. Aparência da aparência é a falta do olhar. Livre da escuridão profunda do ser que torna o invisível aparência. Mas a aparência torna o invisível invisível. O amor é tão nítido na alma. Quando amo, não vejo meu ser. Vê-lo como se não o visse. A alma é invisível na ausência do corpo! Pelo corpo, vejo minha alma a dançar, exterior ao corpo, ao mundo. No que não se vê, está apenas a ausência, sendo vista no que não se vê: é a verdade da aparência da alma. Dor e alegria, vida e morte, tornam o corpo corpo. Tudo o que posso fazer pela alma é ter um corpo. Mas minhas alegrias, dores, nunca serão amor pela alma, é angústia de ter alma! O corpo boiando na alma, alheio a si, me deixou viver pelo seu descaso, que não é esquecer. É a alma absoluta, a negar o corpo, morrendo pelo corpo! A morte afundou-se de tanta vida. A alma adoeceu do corpo, que nada fez vendo o corpo morrer. Tudo cessou num silêncio eterno de amor!