Inusitado é encontrar a alma apenas quando eu morrer. Tenho que cumprir a minha morte. Quero que encontre minha morte como coração seco a sangrar. A realidade transforma a terra em poeira ao vento. Descortinar meu eu, aparecendo pra mim. O ser não é diferente do passado a acontecer no futuro. Há muito em mim para morrer. Morrer é o resto de nós. O sono é o despertar da morte. Ausência sem dor é morrer distante da própria ausência. Algo gruda na morte, impregna o ar. A morte é como o transpirar eterno: é esse frio de morrer que mantém o amor. Estou me partindo dentro de mim, sem morrer, assim, não posso me dividir com o nada. O mínimo que posso dar a morte, é minha alma. Dando algo à morte, estou me dando vida também. Escrever vai me perdendo. Nada perco na morte, ela me dá o que perdi ao escrever: minha alma.