Blog da Liz de Sá Cavalcante

A degradação do nada

Muito amor sem alma, sem vida, sem amanhecer em mim. Quero amar o amor ainda vivo. O que se pode reprimir se pode amar? No amor queria ser tudo para o amor. Mas amor é tudo pra mim. Eu não renuncio amar. Para mim, se o amor me sorrir, já sou feliz. O amor começou na minha alegria, concretizou-se no sofrer, na ausência. Foi quando percebi que o amor é mais do que eu pensava, ele me tornou humana: me ensinou a sofrer, a ter o amor em mim. Assim, percebi que sofrer não é amor. A ilusão do que não sofri me ajudou a sofrer. Sofrer é o único pedaço de mim que permanece como vida em quem já morreu. Saudade cura. Perder alguém para a vida é me esmagar sem me deixar morrer. A alma é o retorno à morte do meu ser. Morrendo, deixei minha morte vazia. O espelho é a alma do ser, o ser é a alma de Deus! Deus não pode preencher minha morte comigo morta. Deus é forte com a morte e frágil em nos ver morrer. Eu deveria morrer por Deus, não pela minha morte. Assim, até o nada cessa para não me ver morrer. O amor resiste à morte, por isso morreu. Tentei rezar pela morte, não consegui, enlouqueci. Fui maior do que eu mesma, fui além de mim, mas não rezei pela morte. Mesmo assim, nada mudou em mim, continuo frágil como uma flor. Nada me diminui, nasci frágil. Amar é conseguir ser frágil no outro. Apenas assim me sinto forte. Se a morte é o nada, como tenho lembrança da morte antes de morrer? A lembrança de morrer não cessa, não acaba em morrer. Ela continua fazendo outros viverem. É como se nunca ninguém tivesse morrido. Tudo fosse apenas este momento de vida, que não é além de mim. Então consegui pensar na minha morte como sendo a oração que fiz para a morte. Morri tranquila nos abraços da morte. Descobri que a morte é sensível, me preparou para viver e morrer em cada palavra. Nunca estive tão perto da poesia, como agora que morri, sonhando ainda mais, falando mais, amando mais. Que o inacreditável aconteceu: perdi meus filhos poemas, mas, conversando com Deus, percebi que a poesia era uma parte de mim clandestina, que ela se encontrou longe de mim. Converso comigo tentando me conectar com ela. A poesia ganhou luz própria, e eu perdi minha luz. Nunca tive luz, minha luz é a poesia. Sem ela vivo na escuridão, mas ainda tenho a vela da saudade. Poderia criar. Tenho medo que a vela apague. Não posso criar uma poesia substituindo por outra. Decidi não escrever: estou dividida com tanto sentimento, tanto amor. Por que não pode me amar? Foi assim que não desisti da poesia, de amar, de ser eu!