Blog da Liz de Sá Cavalcante

Sou o que lembro

A invisibilidade une a distância e a proximidade: é apenas isso que sinto em mim. Sentir é lembrar. Mesmo sem lembrar de mim, lembro do sentimento de ser. Nada pode ser o sentir que eu sinto: nem mesmo a lembrança de mim. Preciso de algo para me identificar com a lembrança do que sou. Mas nem na lembrança de mim me reconheço. Laços desatam mortes. Sem lembranças sou feliz como é feliz esse alcançável de ser. Mortes desatam laços. Mais vale uma ilusão perdida do que viver? Se a alma saiu de mim, esteve em mim em cada amanhecer. Por isso, para mim, o amanhecer é alma. Mas a alma desaparece no anoitecer, e tudo é apenas sono e vigília. Existem almas tão nocivas que às vezes amo apenas para não ter alma. A alma é uma lembrança triste, nunca superada. Posso transformar a alma na minha vida, mas não haveria sonhos. A alma é para ser vista na sua alma, não ser mais uma lembrança. Não necessito mais lembrar da alma. Ela é real!