Imperfeição, tua nudez é meu corpo, minha alma. A falta corrige o nada, na alienação do meu corpo. A alma me ajudou a morrer; não resisti, fui até o fim em morrer. A vida não me ajudou a morrer. Quem resiste à alma não morre, vegeta para sempre. Deixa-me ser um pouco alma, vida, que deixarei tu seres vida. Nada é pouco na alma. Apenas a alma aceita a realidade de ser, é seu costume de ser feliz. A alegria da alma entra dentro da tristeza. Nada mais é triste: que desolação. Por isto quero estar no ventre da vida, para não estar em ti, tristeza, assim não alcanço o infinito das tuas ausências, que suplica viver, como um resto de mundo guardado em ti, sem fazer parte de ti. Não há dor que me impeça de ser feliz. Pensei que o amor me deixasse feliz, eu penso apenas quando sofro, o sofrer me faz feliz, como se eu tivesse o dom de nascer do sofrer. Ao menos, o nascer tem que ser algo bom. Se sofro por ter nascido, estou doente de alma, não nasci totalmente. De que adianta eu nascer sem vida? Se nasci sem vida, morrerei com vida. Vida que não quis que eu amasse, amo mesmo contra a vontade da vida. Nada determina a vida, cada dia o sol se põe mais distante, para que a vida seja o que nunca pode ser. Descansei na alma do amanhecer, acreditei em sonhos até o anoitecer da minha alma. Vivi o sol dentro de mim, com a voracidade de quem vai morrer, como lembrança do sol, do nada, da vida, de tudo que existe, que poderia ser sol e não é. Deixa o sol acontecer em mim, pelas palavras não escritas, que eram para ser noite, para eu dormir.