Blog da Liz de Sá Cavalcante

O desamparo das palavras

As palavras não podem ter o vazio do ser, por isso estão desamparadas. Quem cuida da consciência sofre consciente, sofrer inconsciente é morrer. Uma morte que não é consciência, nem inconsciência, é apenas o vazio dentro de mim, onde não estou só. Nada há dentro de mim que me faça viver ou morrer. Sinto as palavras, até sem solidão. Nada é mais só que ter uma companhia ausente como o vazio. Pela ausência do vazio, é que sinto o vazio. O céu, vazio de tanta esperança, é amor. As palavras fazem desaparecer o único instante da vida. Só, o desamparo das palavras são apenas palavras, por isso não podem ser concluídas sem amor. A falta de amor é olhar para o que não existe e ainda tentar transformar em palavras. Como perceber o dentro e o fora de mim? Seria como ficar sem palavras, na presença das palavras. As palavras é ir além do ser, é captar a inexistência pelo amor que sinto. O amor, eu sinto sem perceber, como se ele fosse minha única percepção, acima, superior ao mundo. A palavra não necessita de mim, não me importo, necessito dela, sem ela saber da minha existência, que se mistura nas palavras. As palavras prolongam a minha vida. Eu sem mim ainda seria tanto amor, que não consigo traduzir em palavras. As palavras gastas pelo meu amor não me reconhecem, não me amam mais como antes. A palavra é um ser, que precisa viver como eu. No dia em que a palavra viver, não me importará mais viver, apenas o silêncio perguntará por mim.