Como comunicar ao vazio que ele não existe mais em mim, que o transferi à minha morte, por ela não ser vazia, necessitando do vazio. A morte viverá o vazio sem mim. Somente assim sentirão o meu vazio: pela falta dele. Perdi a mim, em vez de sentir o vazio. Nada deixei faltar ao vazio, queria apenas que ele se comunicasse comigo, para eu compreender o que não é vazio, o que se comunica, talvez isso seja morrer. Nem a morte explica o vazio, talvez o vazio seja apenas sem o silêncio. Nada se transforma sem o vazio, nem a poesia é poesia sem o vazio. Tudo depende do vazio: a vida, a morte, a presença, a ausência. Apenas o amor não depende do vazio, depende da minha inexistência. Nessa inexistência, meus sonhos não são vazios, são plenos de mim.