Tenho medo de deixar de sofrer, assim como tenho medo de o sol nascer, esquecendo-se das estrelas, esquecendo-se de mim. O dia amanheceu sem brilho, sem o amor das estrelas. É melhor a vida ser de verdade do que ser infinita. A vida é infinita se for de verdade. A próxima pele é o fim da pele do frio de ter alma. Ser só não é ter pele. O sonho é sem pele, no ser que o habita. Alma que ama e vagueia só, até acabarem as faltas, sobrarem apenas lacunas das faltas que sempre vão existir, como faltas ou como amor. A realidade das faltas é a mesma realidade do preenchimento, onde o amanhecer amanhece, sem saber por quê. Há sonhos que deixam o ar com o seu perfume, que faz amanhecer. A alma é a única realidade do sonho. Sonho que não existe no real, para o real. Apenas para o real, o sonho é apenas sonho. A alma é a superfície do ser, que devagar faz do ser sua superfície. Por mais que a superfície se multiplique, nunca será profunda. Sou sem superfície. Mesmo assim, a profundidade não pode ser eu. A profundidade não toca a alma, ama-a. A alma não sabe ser profunda, mas até o respirar da alma é profundo, acalma o mar. O mar é uma alma livre. Conhecer a alma, pelas faltas, que não são fragilidades, são a alma se vendo em mim, sem minhas faltas. A falta sofre como alma, até se tornar alma. A alma pode desaparecer para si, não para mim, que isolei a alma do meu desaparecer, que desapareceu para mim quando vi a alma. A alma, sem desaparecer, torna-se invisível na minha sombra. Falar é o porquê de tudo. Há falas que se colocam entre mim e o sol. Não sei se é a vida a falar comigo. Teu sol é distante, frio, sem emoção. O sol, em mim, é a infinitude do meu ser. O sol está dentro do meu quarto, onde a janela é a lua.