Blog da Liz de Sá Cavalcante

A lembrança é um abraço

A lembrança é o abraço sem corpo, alma, que devolve vida à vida. A alma é vida que não cessa. Depende da alma o que sou, amo. O ser, fim do amor, sossega sem o amor. A vida tem alma, que as almas desconhecem. O sol desaparece na alma para que eu possa vê-lo. A distância não tem alma para sair de sua distância, que é vida, morte. Há tanto amor para o nada e nenhum para o tudo. Corpos que se arrumam sem a presença do ser vivem como se o ser estivesse neles. E se eu imaginei que o ser tem um corpo para cobrir de alma? É quente sem o corpo, como se a presença do corpo tivesse que existir distante de mim. É dia, noite, é o ser, é tudo que não há pensamento, para que o instante dure, mesmo sem acontecer. Eu aconteço como se eu fosse o instante perdido em mim. Eu vivi o inacreditável. Arrancar o corpo imaginário de mim, para provar que nem tudo que sai de mim é poesia. A sofreguidão do vazio esconde a noite dos sonhos. A alma não é interior do ser. A alma é o exterior, não do ser, mas de mim. Há mais no exterior de mim do que no interior de mim. O interior precisa do exterior para viver. Pensar no ser é pensar no nada. Reduzir o ser à existência é não pensar no nada. Reduzir o ser ao ser é o agir do nada. A alma não existe, mas sua fidelidade e seu amor existem, como se pudessem ser o que falta ao ser para ser nós.