A demora de um adeus é morte eterna. As lágrimas do esquecimento não são pela morte, e sim pelo que vivi. Apenas minhas lágrimas não são esquecidas. Tudo passa pelo sofrer que permanece. Deus não pode dar fim ao sofrer, senão o sofrer não seria humano. Tudo aparece, surge no sofrer. Sofrer é não viver mais. Sofrer não fala de Deus, fala de si mesmo. Nem o sofrer pode falar por Deus. A linguagem de Deus é Deus. Deus não compreende minha fala, mas conhece o meu amor. Não falo para Deus, falo em Deus, por isso Ele me escuta. O silêncio é a expressividade da palavra. A palavra não existe na fala, existe no silêncio. A expressão da palavra é vida que se entrega ao mundo. Não posso me entregar à alma sem palavras. Não sei que alma, ser, espírito, teria o que merece. Vejo o silêncio na falta do silêncio, como um mar calmo de luz. Não há mar na saudade. Saudade é o fim de tudo. Nasce o sol, no extremo da morte, mostrando que a morte não é tudo que me resta. A luz do sol é o meu olhar, permanência da alma, que se vê no meu olhar.