A alma vive mais do que todas as vidas juntas, não por poder morrer, mas por acreditar no amor, mesmo sem pensar no amor. O amor se lembra tanto de mim, que desconfio do amor, de mim, mas não do que ele significa para mim: vida! A vida é a única perda que se refaz de amor. É a única e verdadeira perda de amor. O tudo seria o fim do fim; como existe apenas o fim, o tudo não existe, mas sua inexistência não é solitária. A alma vive tanto, que não ama. Queria morrer em demasia, onde o amor não me alcance. A morte ama o amor por onde ele não percebe. Caixões vazios de morte e de esquecimento. A alma pode ser algo, mesmo sem ser amor, ela pode ser a segurança de eu estar amando desprotegida. A poesia é o sentir da alma. A poesia me tem no amor que sentimos juntas. A poesia necessita de mim, e eu dela, por isso há amor. A ausência das coisas é o meu ser, onde se perdem os limites da vida. Seu limite era sua ausência sem mim. As coisas me tornam eu, sem ser referência de nada. Que a ausência seja referência de vida. Vida e ausência se misturam: nasce o amor. Meu ser parado queria ser algum movimento para a vida. Os movimentos da vida não deixam eu me mexer sem movimentos, meu corpo age, ama. Pedaços afastados de mim deixam de ser pedaços meus para serem minha alma. Nunca tive alma antes, nem pela ausência que ela me dá. São tantas ausências para que exista vida, que o mundo adormeceu. O acordar do mundo é a própria ausência da vida.