Ninguém sabe o que existe: flutua, absorve o ser e escreve o nada. É fácil apagar o ser, o difícil é apagar as palavras e a alma, palavra de toda palavra. A morte eterna é o ser. A morte é o ser morto. O que era a vida? Palavras mudas, sentimentos irreais. Um corpo de palavras é um corpo nu apenas por dentro do corpo, por fora vestido de ser. O tempo existe sem ser escrito. O limite de escrever é a união do corpo com a alma. A poesia é o espírito da escrita. A escuridão é o fim da escrita, é o silêncio sem Sol. Amadurece o silêncio sem Sol. A tristeza é um silêncio sem Sol. A fala é a repetição do amor. O real é o negativo da vida. O real é uma promessa falsa de vida. Retornar, nunca morrer, isto é a superfície morta sem nada, por onde olho o céu e me misturo sem céu. O céu colou o meu olhar nas estrelas. Assim, o precipício teve fim no viver da morte. O fim é apenas falta do que não existe em mim, por mim. A luz é um vazio de beleza. A vida não se entrega à luz, rompe escuridão. Há uma sombra de luz, de escuridão. O sonho escapa na poesia em um fascínio de escuridão. A escuridão é uma alma sem espaço vazio. Desaparecer não é ser, é substância de Deus em mim. Deus, essência que desaparece no ser. O ser é sem essência. Essência é o real no desaparecer. As fases da alma são renúncia, amor, realidade. Ela morre sem perder a renúncia, o amor, a realidade. Morre em paz. O nascer é uma realidade morta, que se torna vida com o tempo. Nada nasce do nascer. O nascer é o amanhecer irreal de dentro de mim, o ser é a sublimação do nada. É misterioso o nascer, como viver a falta de nascer em um nascer real. O amor não é real, é a ilusão de nascer. Nascer é sentir a alma – apenas isso! A alma é a transferência do nada. Sentir a pele sem alma, abrir-se para o mundo, é a vulnerabilidade em pele. Do ser espero pele e, de mim, desassossego, solidão. E se for o ser, a solidão de mim? Ser só é o infinito. O sujeito aparente é o real. Intuição é ver a alma. O ver é entrar dentro do nada. Não vai me convencer de mim, do nada. O acordar sem acordar é a alma a vencer o corpo, é a morte saindo do meu corpo. Desencontro em viver comigo. O olhar é insuficiente, até morrer. O corpo padece no olhar. O olhar não é o corpo.
