Sonho ter um corpo, mas se a vida não tem corpo, não quero um corpo. O corpo me desidentifica. O nada possui meu corpo. Tudo realiza o nada no meu corpo. O corpo é o defeito, incompletude do ser e do corpo. Vendo o corpo sem mim, percebo que tudo é possível. A falta que me faz morrer é o chão a desabar meus pés. Sorrir de pedra é a obra da morte. Esse sorrir de pedra é o depois da morte, na morte. O ser é silêncio, a fala não é. O que fazer com a vida? A vida é um sopro. Tudo no silêncio flutua. Tenho todas as vidas, menos a minha. Ser, não ser, um é o sem fim do outro. O outro me faz querer ser eu, mas o outro não me faz ser outro. O outro não reflete em mim. Ando em buracos do nada, até não ter mais buracos. Os buracos se tornam meus pés. Perder o tempo na tristeza não é perder. Perder é quando se tem alma.
