Blog da Liz de Sá Cavalcante

Universo de almas

O olhar é o fim do mundo, começo do ser no Universo da angústia. Sentir a dor é coragem para nascer e morrer. Construa sua ilusão de morrer, não a minha. A morte não é fria, é justa com o ser, mais do que com seu fim. O fim é a falta de anular o ser, por isso fica apenas o humano. O mundo não é humano. Nada constrói só, nem mesmo a solidão. Mas ainda se pode chorar só, não ser só como as estrelas, como as palavras. Posso ser só como sou. Nem as almas se contradizem em sua solidão, pois a solidão é íntima, particular. Estrela é consciência do nada. Sem mar, sem vida. Nada pode me tirar de dentro de mim, nem mesmo a morte. Sou metade eu, metade morte. Nada morre ou vive sem poesia. Ainda sei como uma poesia ama. Amo o que me separa de mim, sem morte ou dor. Permanecer é não durar. A morte dura, não permanece, não é uma presença. Rezar cessa minha alma, na minha presença. O mundo é perfeito só. Vivo por ser só dentro de mim. Carrego a morte no corpo. A morte é minha pele. A pele corrói a vida; a vida corrói a pele. Não sei ter pele. Feridas da alma são peles raras, que me devolvem o passado em peles. Peles escorregam do corpo, têm vida própria. Sonhos se agarram em vida. A vida é proibida em sonhos. O tempo passa, pessoas ficam. Não há consciência sem morte. A consciência faz nascer a morte. A morte não faz nascer a consciência. Velada, a morte é verdadeira. Sinto a essência da morte no meu corpo. Pele por pele, resta a morte. Morte é o sobreviver da pele.