A morte não era para o ser, era para o nada. O ser se apropria da morte, pensa ser este o seu fim. Não existe fim para o ser. O ser não tem começo, meio, fim. É vida pura, como ela é. O sentir da vida seria o fim da vida no eu. A vida nada sente. Nós é que sentimos pela vida. A vida do eu não é nenhum ser, é a vida pela vida. Sinto sem necessidade de ser o meu sentir. Meu sentir são os outros. O amor é ser. Ser sem amor me inclui no nada, sem levar nada meu para o nada. Levar algo para o nada é deixá-lo partir do nada para o nada. Partir é aceitação da vida. Partir é perfeição. Não há fim na razão, mas há fim na razão de ser, sem o último suspiro. A morte é a falta de monotonia na alma. O silêncio de flores não é amor, é dúvida. A morte saindo de dentro da morte é morte eterna, onde corpo e alma morrem entrelaçados no viver eterno, sem eternidade. O que finalmente é, perde-se em vida. Nada é parte da vida. Mãos se dilaceram sem tremer. Encontrei-me na perda das minhas mãos. Sem as mãos escrevo melhor. Tudo é destruído pela perda das mãos. Mãos não são lembranças. Corpo é esquecer. A perda de Deus ainda é Deus. Deus no meu corpo é a transcendência de alma e a morte desse transcender, que viveu o suficiente para eu conhecer Deus. Meu corpo não é Deus em mim, mas Deus é uma inconsciência que me mantém viva na sua inconsciência. Preciso do meu corpo para sentir Deus. Ou não preciso? O que procuro na morte e encontro em mim? O sujeito sem Deus, que não sou eu, mas é essência que resiste ao abandono de Deus, do ser, para nascer a vida. A alma da vida é apenas essência.
