A autossuficiência da dor é interagir com a dor. A dor de nada precisa. Eu preciso do silêncio da dor. É nesse silêncio que existe vida. Com o tempo, aprendo a sofrer como quem colore a vida. Eu não sou minha dor, mas sofro. O silêncio é uma imagem sem mim. A alma não é uma imagem, é a perda da voz sem imagem. Ter uma imagem é morrer dessa imagem. E se a alma for uma imagem? O que eu via não era real? Olho a alma me vendo na alma. Se não vejo a alma é por ter sofrido demais. A vida da alma é a morte. A alma não sabe viver por mim. O que sou não depende de mim. O que eu serei é a permanência de Deus. Permanecer é o relativo de mim. A permanência é o fim. É essência a permanência. Permanência é um adeus interior, sem vida. Adeus com vida é a impermanência. A impermanência dos meus olhos é a alma, mas a alma é permanência de ver. O nada nada é, mas o sorrir me faz ser. O lembrar, fim da permanência. Eu vivi tua permanência na minha saudade, vida. O que podia ser vida é o nada de uma consciência. A força do espírito é a ausência, é o que fica de mim em mim. De todas as almas, prefiro o nada. Alma é um desencanto, é chorar com alma, no morrer, mesmo sem nada ter morrido. Sou o teu chorar na minha morte. A falta que faz morrer é como segurar para sempre uma flor nas mãos. É como não desperdiçar a dor. O ser é cada sintoma isolado, sem o amor do ser. O céu é a falta do ser? Sonhar é não ter um passado. O sonho do passado é a alma cortante no ser. A alma não se realiza no ser, nem em mim. Realizar-me, deixar a alma para a alma. Não me torna mais feliz. O que torna o sonho feliz me deixa triste. Não preciso sonhar para ser feliz. O tempo é o espírito. Carinhos do espírito são espelho da vida. Quando o espírito se desfez, parei de implorar para viver. Sou apenas esse ar, inexplorado na exatidão do sentir. Sinto no não existir de mim mesma, e esse não existir é minha pele eterna. Nada em mim te faz sentir. O meu não sentir é amor. Não sou de corpo e alma, mas o que se aproxima é a falta de morrer. Ninguém tem o morrer em si mesmo, mas nas suas faltas. O choro de ninguém fere a alma. A alma fere mais do que chorar. Estou em Deus no mundo. O céu é apenas esquecer a morte dentro de mim. Meu interior é morte. O mundo não é Deus. Tudo que existe faz falta. Sou incapaz de sorrir com faltas. Eu sou a falta de Deus? Cadê Deus na minha dor? O sentimento faz falta à dor, humana ou divina. Nada na dor é perda, são ganhos. Ser é falta de mim na vida. O silêncio é a injustiça de ter que compreender o incompreensível. A compreensão é entendida como nada. Falo com a morte e ela responde sem a fala da dor. Nada reconhece a morte no silêncio. Mãos em silêncio alcançam o céu no seu despertar. Mãos que falam são mãos mortas.
