O amanhecer poético é um buraco no nada. Sem faltas, a poesia é incompleta, incompreendida. Poesia por poesia, resta eu. Na poesia sou quem me sente. O buraco é a aceitação do mundo como falta e negação a mim, para viver sem faltas. Posso negar a mim, mas não posso negar a alma, nem as faltas que fazem falta à alma. O destino é apenas pertencer às próprias faltas. A poesia dança suas faltas, flutua na escuridão como um resto de nada no amanhecer poético. E o amanhecer é mais limpo, verdadeiro no nada. O amanhecer é o partir do meu corpo no esvair do silêncio, como a alma, como a origem de tudo. Nada esqueço na alma. A perda é inesquecível. Torna a alma humana com o meu sorriso, que é mais, é sempre. A poesia é eterna na alma, sem suspiro, sem dor, sem a liberdade de sonhar, sem sonhar. Fica apenas o devaneio real de existir e para sempre cessa na existência, que não existe. Existir são só palavras.
