Blog da Liz de Sá Cavalcante

Plenitude é insuficiência de ser

Nem o corpo, nem a alma, nem o Universo podem ser minha plenitude de ser. Plenitude não isola o isolamento. A coragem de viver está em saber quando parar de viver, mesmo sem ver a morte. O espírito da morte é a vida. Nada amortece o espírito, mesmo assim ele esmorece, cresce em mim. O espírito, pedra que flui, alma que se condena. O que falta ao céu é o espírito humano. O céu da minha alma é minha ausência, não é o céu do céu. Sem ausência não há céu, há apenas certeza de permanecer. É indestrutível permanecer sem céu, por isso morri na indestrutibilidade. Morrer é o conteúdo da vida. O céu sente a morte. Confiar no espírito é perda de mim. A alma concilia ser e espírito. Minha poesia é onde alma e espírito são o meu desaparecer na eternidade. Eternidade é ver o Sol a sonhar, a brincar de ser feliz. Não sei se o Sol é feliz ou se é uma fuga brincar. Não consigo não me sentir feliz, não preciso morrer para ser feliz. A alegria está na vida e poucos a usufruem. Por que é tão difícil querer ser feliz? Toco o desaparecer da vida e percebo que ela existe na morte. Posso fazê-la existir no mundo. A vida existe sem ser pela morte: é quando torno a morte abstrata. Ainda dá tempo de viver se for pela morte. Quero viver pela vida, assim me acostumo a morrer. Não há complexidade, há apenas o fim, onde eu tenho que me reduzir para viver.