Espero a vida sem atitude. Desenha-me sem a tua vida, na memória de uma canção, que se mistura como mar, com a solidão vivente de céu, de estrelas. A morte busca o corpo, não a alma. O silêncio cessa a solidão. O martírio de ver é solidão, que remove o tempo e o torna corpo do corpo, sangue do meu sangue, alma da minha alma. Ficar no nada evolui o tempo, cessa o eterno de mim. Fico a contemplar o eterno de mim. É melhor do que sonhar com o fim. O fim de te ver é falta de mim. Cansada de me alegrar, de sofrer, de ser eu. Eu vi, no fim, a ausência que perdi. O chorar das almas acalenta o destino. Essa é a atitude de Deus no ser, na misericórdia de ser. O silêncio é a agulha da alma, é partir não sei de onde, nem de onde venho. O silêncio do corpo cessa a alma. Respirar é olhar para mim. Como dar um coração morto para a vida? Alma, nós nos conhecemos em sonhos. Desapareci no ver. Ver é a alma pela vida. O céu é razão de Deus. Sentir é começar algo já terminado. Não há Deus na morte. Deus abençoa a morte. É real tanto o céu quanto a sua falta: este é o encantamento do céu. A incerteza do céu o faz aparecer e desaparecer em um único instante, para a vida ser eterna. O remédio para a dor é sofrer como se meu corpo fosse de outro. Choro para voltar a mim. Nada em ti é dor. A consciência não é natural. Quero que meu coração acabe. Ele é cheio de mortes, bate mortes. A morte é o coração que não tem morte. Do ventre da morte nascem mais mortes, com risadas histéricas. Eu preciso da morte mais do que ter um coração. Um amor não se compara com morrer. Morrer é tudo, é nada. Escrever não me traz de volta à vida, no meu ser perdido, que não é mais ser, não sou mais eu: portanto, encontrei minha morte. A mornidão de um instante é o desassossego de Deus. Deus é uma alma entre tantas. Como reconhecer Deus? Pelo meu amor. A vertigem do nada é sono. O despedaçar do nada me desperta comigo a dormir. Assim, a realidade e o sonho encontram-se afastados da realidade do ser. Reconheço-me sem sonho, realidade, dormindo apenas em mim.