Teus olhos irreais são reais para mim, vida. Não precisa ver o que me causou a mim, nem precisa se ver para ser minha vida. Teu ver é o meu respirar, minha ausência, minha presença. Olhar é o depois do pensamento, ver apenas por ver. Ver no silêncio cessa a dor no perdido encontrar, mas nada preciso encontrar nesta alegria. Ela é como me vejo: uma ausência triste, um mar em chamas. O olhar e o ver são duas almas que não se encontram. Encontram-se cegamente no amor não sentido, que é a libertação da alma. A alma é livre para partir de mim. Não quis. A dor é um querer voluntário, onde sei por que quero. Querer é um sonho já realizado. Meu coração é de névoa, em um amor transparente. Nessa transparência perdi meu corpo. Sem a ausência, vejo a vida. Deixo a vida ser o meu corpo. Apenas a morte é a completude do meu corpo. Meu corpo desmama a vida. De frente ao Sol me pergunto: Precisa haver a vida? Acho que não. O não do haver é o Sol, a amanhecer de amor. O olhar é o depois do ser; o ver é o antes do ser. A imagem involuntária é a morte, o céu, o infinito. A vida é mais uma vontade entre tantas vontades. Teus olhos, vida, deixa-me ver teus olhos. Pensei estar sonhando. Desatar o olhar do nada, sem morrer, não é vida. A insatisfação do nada é a vida. O nada aparece quando se esquece. Esqueço a vida no nada, mesmo nada não sendo nada. O real é sem imagem. Imagem é o real sem a imaginação do não ver. O pensar e o imaginar são iguais. O nada de ver é alma. A minha aparência é o céu a entrar em mim pelo esquecimento de mim. Não é o mesmo esquecimento de ver.