Blog da Liz de Sá Cavalcante

O início do nada

O nada nasce do ser. O nada, de haver algo, substitui a vida, o ser, as lembranças, o tédio, a dor, o amor. O nada da presença cessa a ausência. É suave morrer, é como o cair da folha da árvore, no meu sono profundo. Sem mim, meu sono me digere, me falta. Mãos executam os sonhos em tocar. Tocar é esquecer. Não quero voltar ao vazio, ao esquecimento. Nada mais vou tocar. Ver é além do tocar. É como tocar no florescer da poesia, o morrer. Não é crucial. Não fui tocada, nem ao morrer. Este é meu encanto: a estranheza, a solidão, a falta de alma, que faz todos esquecerem tudo e me abraçarem como se não fosse a última vez. Nada me separa desse abraço, nem a morte. Não vi a escuridão, espero pela luz das palavras – elas não me abraçam. Tenho amor suficiente para morrer. Morrer não é o mesmo que amar, mas preciso morrer. Este é meu coração: a morte. Morri sem o silêncio de morrer e o tempo se fez da minha morte, do meu sorrir em morrer. Minhas últimas palavras foram um sorriso. Privada de mim, sorri, sorri. O sorrir trouxe-me de volta e não sei se foi bom, mas foi necessário. O mundo precisa de amor.