O esquecer é rude por isso não maltrata. A vida é inesquecível na morte como página em branco: não precisa ser escrita. O desânimo é um estado de alma, onde me sinto morta. Posso me enganar da vida, pela consciência que não habito. Estar não é ter consciência. Consciência é ausência. A vida cessa numa poesia infinita, substitui a vida. Não há cessar na consciência. O corpo é amor infinito numa vida finita. O nada vê meus olhos. A distância é a sensação que tenho olhos, corpo, mas nem a proximidade, me torna eu. Na vida, sou eu, sem o meu corpo, meus olhos, sem a sombra da minha ausência: torna tudo possível, até eu morrer por ter um corpo, olhos para ver. Nada auxilia minha inexistência. Ver o bom como ruim é o nada interiorizado em mim. O interior é ruim na alma. Meu interior é a morte. A morte é a visão do mundo. Toda sensação é igual ao morrer. Sensação é alma, é a espera infinita do vazio. O que é no fim de si mesmo. O fim não é o ser. O ser é o ser do ser de outro ser. Ser é pele, ser é sacrifício. Ser é a intuição vazia do nada na ausência do não ser. Ver não capta o visível. Nada na transparência do ser. A vida morre sem ausência, perda, lembrança, mas sofre ao morrer. Meu olhar fundo de tanta morte me vê morrer no fundo de si mesmo. É tocante o céu a me esperar. O tempo do céu não é o tempo de Deus. Deus é sem o tempo. O esquecer é união da alma com a plenitude, onde o corpo é excluído na alma frágil, e a alma forte recebe o corpo. Substituir o corpo pela falta de sonhar pelo nada, pelo amor, é me abandonar sem alma: na alma da ilusão. Me deixo no nada do corpo que me falta. A justiça de Deus é a morte.