Blog da Liz de Sá Cavalcante

Ignorar a dor

Se o partir nascesse dentro de mim, ficando dentro de mim, eu renasço, nascendo de mim. O consolo de ignorar o nascer numa alma desaparecida. A solidão é nada. Começo a viver ao morrer. O nada é um bem. A alma ecoa no espírito. A morte é sempre morte, não sou sempre eu: sou minha inconsciência. O nascer da morte é a presença de Deus sem o nada de mim: em mim. O meu ser lateja na sombra da minha inconsciência. O amanhecer, única consciência de mim. Escuto o amanhecer na minha alma. O tempo é a distância de Deus, de mim, do universo, sem palavras. Apenas o desespero sem palavras, sem silêncio, me reconcilia com o nada. O nada nas palavras é a essência da alma, numa essência perdida. A dor é o nascer da alma em mim. O nada se divide no antes e depois da alma. O mundo é um ser. Meu suspirar, ausente de mim, é o meu mundo. A alma é o interior no mundo. Pensar no meu interior traduz meu esquecer na solidão de quem vive.