Blog da Liz de Sá Cavalcante

O rosto da minha lembrança

O rosto da minha lembrança é o amor. Eu o vejo na alma. O rosto da minha lembrança é permanecer na lembrança sem rosto, sem lembrança, o corpo é o fim de uma lembrança. Eu vivi o meu corpo como se ele fosse uma lembrança preciosa, rara. Mas o meu corpo não é uma lembrança, nega a lembrança vivendo. Mas viver não é uma lembrança. Tudo é repleto de nada. Faça-me em mim lembrança, não para que eu lembre, mas para que eu viva. Viver, ser feliz, são separados pela alma: essa é a noção da vida. O olhar é ver com alegria o olhar, espiritual, é uma despedida: totalidade do meu ser. Sem o ser, o esquecimento é de alma. Não há esquecimento na ilusão de viver, ela lembra o meu ser, as poesias não da para marcar a ilusão com o meu ser. Vou viver de ilusão. A ilusão do amanhecer se perde na luz da alma. O céu reluz a dor na saudade da ilusão. A alma da ilusão é para mim o que não pude ser sendo eu a própria ilusão. Por isso, não posso me dar a vida. O céu, tempestades de pessoas que sempre vão existir. Por isso, a eternidade é sem o ser. Ser é o aprisionamento de várias pessoas numa única pessoa. O ser é o fim da tristeza, é o início do fim. Ninguém sente a tristeza, sente a si mesmo. A saudade é o fim de ser triste? O que é saudade ninguém sabe. Ousa sentir saudade? E se eu ficar dependente dela? A volta do que não partiu é a alma. Não ser é mais difícil do que ser. A alma, uma ventania, arrasta o ser. Não ser é alma. O prelúdio da morte é o ser. Ninguém é na intimidade de ser. A intimidade real é a solidão do amor, não do ser. O rosto da lembrança não se compara com a lembrança, com o que vivi. Mas ainda vivo?