A minha ausência é o ar da eternidade. Mãos desviam a eternidade sem a solidão de ser, no não ser das minhas mãos. O não ser das minhas mãos me faz ser com mãos de eternidade. Amei a minha ausência com mãos de eternidade. O tempo é eterno no que vê: essa é a sinceridade do tempo: tocar é a eternidade das mãos. Meu amor é o tempo, nada posso fazer por mim, pelo meu amor. Carrego o céu no meu amor. O tempo de um olhar é a imagem que pensa, ama. Amar é imagem sem céu. O ódio é o céu sem imagem. Nada me torna o que sou. Sonho comigo, iludo-me no desconhecido. Ver é uma imagem, mesmo sem imagem. A luz do nada é a falta de um último olhar. O ar da eternidade é sem expectativas, é raro como a morte na alma. Não há caminho para a eternidade. Há apenas a minha visão do mundo. O céu não desaparece em si mesmo. O eterno é um retino espiritual. Nada nasce só. O tempo destrói a fala, destrói o ser: não destrói a consciência, ficou sem o ser. O mundo vê o que quero e eu vejo o que o mundo quer. A aflição é algo que não se pode sentir. Eu não vivo no tempo, vivo em mim. O ver para sentir o que vê se torna um ser. O meu ser é torturado pelo que vê. Me vejo morrer. Nada é inabalável, nem mesmo a morte. É impressionante a falta na morte: é como me encontrar outra vez para me dizer adeus. A alma nunca silencia. Sofrer de alma é insensibilidade do infinito no meu corpo. Ninguém sabe da minha alma, mas quando me abraçam é a minha alma noutro alguém. O último adeus foi entender o nada. Amar no adeus é loucura. A morte é meu porto seguro. Prefiro essa insegurança de viver. A vida é insegura como eu, são duas inseguranças que se atraem. Essa compulsão por morrer é saudade de mim. Faço falta à morte. Alma é o não existir dentro de mim, na existência do nada. Isenta de poesias, sou a alma do amanhecer. Nas poesias sou apenas só, onde não escuto o vento, o meu silêncio onde escuto meu amor: por isso, sou só: por amar. Tenho autoestima na solidão dos meus passos invisíveis, do meu respirar irreconhecível, do meu não desaparecer na minha sombra. A minha sombra é a certeza da minha ausência. Sem minha sombra não sentiria a minha ausência. O nada não é nem a sombra da ausência. A morte é a perda da alma. Não consigo suspirar, consigo ter alma. Não perdi a alma, ela tava ausente. Nada se perde no suspirar. Um único suspiro é o meu ser. Nada envolve-me, por isso, sou esse único suspirar dentro do nada de me separar de mim. O nada, única consciência que não foi perdida. O dentro de mim é um suspirar dentro de mim, faz doer a alma.