Blog da Liz de Sá Cavalcante

Sensação no vazio de ser

O vazio de ser me faz ter a sensação de vida. É onde fui triste. Nada afasta a sensação de sentir. Quero apenas a sensação de sentir, como se eu estivesse viva. Estou viva nessa sensação. Me acostumo com a perda de sensação, é como sentir a brisa da morte lá fora. Estar escancarada, no ar que apenas respinga em mim, como o mar. Sonhos de mar me afogam. Afogar-me é me ter. Com o tempo, viver será comum. O túmulo da fala em flores de silêncio. O céu vive distante da vida. A vida sobrevive à dor. Chorar traz de volta o eu em mim. Não tenho a mim, mas tenho o nada. É como se tivesse a mim. A presença do não existir é eternidade na vida. Para o nada me captar, tenho que ser o nada. Não dá para ficar sempre no nada de mim. O nada não é importante para o nada: ele é essencial para mim. O nada é a gentileza da alma. Penso no nada sem voltar a mim. Percebo que sempre sou eu, não existe não eu. A realidade de não existir é a alma. Reconheço a lógica da ausência no amor. A consciência nunca foi vazia, necessita do vazio, como eu necessito de luz, de poesia. O olhar chora por mim. O tempo são cinzas sem Deus. O nada são as cinzas de Deus no renascer do adeus solitário. O ser não é só, pois existe adeus. O adeus é só dentro do ser. O adeus no adeus não é só. Nada existe sem adeus. O adeus é sempre. O nada acrescenta o adeus. O último adeus é meu ser de verdade em mim. O nada, almas que transcendem. O ser não tem alma. Ser é aparência do nada. Nada vê minha aparência, por ser aparência do possível no impossível sem ar. O ar se constrói sem o nada, no ar do nada, prefere ser do que viver. A consciência da imagem é o nada eterno. Tanta imagem e nenhum ser. O ser não é a sua imagem. A imagem é o esquecer sem o nada. No esquecer vejo a vida, não como nada. A vida é a origem do nada. A aflição do nada é um nada isento dele mesmo, noutro nada. O carisma e o amor do nada é meu contato com o mundo. O eterno se desfez num único nada. Vários nadas são o fim do nada. Alegria é o pertencer do nada sem mim. Nada tem mais valor que o nada. O nada morto é como Deus morrer de novo pela vida. Amor é regredir ao infinito. O infinito é o ar como concreto. Ar é sentimento, pode se tornar amor. Amor, sem ar, não é amor. A vida é apenas ar. Ar que prejudica respirar. A existência do ar é feita de vento. A existência do nada não é o nada: são minhas poesias me abraçando. Poesia é respirar sem respirar. O nada é a fala em respirar. Falar sem respirar é a angústia do nada, como minha dor. Dor que refaz a vida. Dependo da dor para viver. Na alma, o ser não existe. A indefinição é vida, ar, cor, alegria. Por isso, a alma não se define. A inexistência está tão longe, que a sinto mais íntima em mim do que eu mesma, do que a vida. Mas não há intimidade maior do que ver o que não existe: é morrer em ver o que existe. A inexistência é possível por existir amor. Inexistência não é morrer, é dar vida a uma estrela sem céu.