O amor de um instante perdido é o nada sem alma, é viver. Nascer é ausência necessária da alma: se perde o nascer no amor sem fim. Que fim eu tenho neste nascer? Um fim de alma sem alma, o que importa é que sou eu neste fim, não o mereço. Não posso ter a alma, mas tenho a sua subjetividade, distante de mim, do que não é alma, é amor puro, é poesia. O nada sem alma é o batismo do infinito. A alma é o que resta da aflição. A imagem é a dor da alma. O invisível da alma é a sua imagem, que torna a alma diferente do que é. O nada vive da alma. Entre eu e o mundo, uma vírgula de aflição, de harmonia, de paz. A serenidade de morrer são vírgulas invisíveis, onde a única pausa é o reconhecimento de morrer, luz que não acende em mim. A fala é o amor eterno, que a escrita não alcança. O nada sem alma é a leitura da alma. Acidentes são almas a se estabilizar. Depois do sol vem a vida. Almas são uma clandestinidade necessária. Venha, mesmo sem alma, a gente inventa, pra se distrair, dessa mesmice essencial. A essência é monótona. Tento ser sua essência: não dá: sendo sua essência, seria feliz: não seria eu mesma. Essência é o perdido modificado. Torna-se sem as essências do perdido. Respirar é essência do perdido, como uma presença ausente. Respirar tira pedaços. Nunca mais os terei de volta: por isso, são pedaços, fragmentos. Por isso, são alma, a se desfazer de mim, para eu não morrer.