Blog da Liz de Sá Cavalcante

O inevitável de ser

O fim do meu corpo é a essência, onde é inevitável ser. Meu ser e meu eu se fundem na morte. A morte é uma alma viva, no padecer da vida. Para padecer não é preciso vida. O instante não é fiel, o padecer é fiel. Sem a morte, a ausência é o único tempo do corpo que não é mais novo ou velho: o corpo é apenas presença de vida. Não há vida na presença, mas corpo é presença de vida. Meu sofrer não é morte. Morte é não ficar só com meu pensar. Solidão é falar como sonho, amar como sonho. O céu e o mar separados pelo sentimento de viver. Céu e mar juntos é me sentir morrer. Morrer não se sente, se vive. O viver do meu corpo é uma lágrima caída. Quero morrer do meu amor. Fecho os olhos e me tenho de novo, como se meus olhos fossem o meu sorrir. O sentir é escutar o chorar do vento. O vento não chora no não sentir. É admirável morrer como chora o vento. O sonho é um ar sem morte. Quando não sou alma, sou eternidade. Abraço o vento em encontros sem fim. A alma é o buraco de mim.