Para desatar o nada de mim, tenho que entrar na minha alma como quem cessa o sol no sentimento do amanhecer. O amor não amanhece. O sentir é um amor impossível. Não respiro o ar, e sim lembranças. A saudade de lembrar é o fim vazio. Na alma, o vazio é eterno. A espera é o entendimento da alma. Corresponder à alma é não a ter. A alegria torna-se a alma transcendente. E a alma nunca será a alma transcendente, é um resto de sol a se esconder da vida, da falta de céu. O real do céu são apenas as nuvens. Não dá para ser só no céu. O céu é o meu coração a permanecer. O vento me faz esquecer de mim. A lua, bêbada de sol na areia do coração. Não me parti ao meio, apenas morri. Não sou areia do vento, sou a sombra do vento a esperar o nada. O vento, sobras de uma inexistência. Na existência de um adeus. Somente me despeço em sonhos, distantes da morte. Ao te ver, esqueço que morri, abandono sonhos para sofrer. Sofrer por ti. Sem vida, morte, apenas eu e o meu sofrer: ele não é você. Deixei o sonho, por isso não desapareci: por sofrer. Nado em mim, me reservando à eternidade da realidade. A morte é o entardecer da alma, sem manhã ou noite. O sorrir da alma é um adeus acolhedor. O momento de escrever é sempre. O sol que não desaparece numa poesia não é sol. O chorar não chora, é ausência. Ausência na falta de sofrer esmaga o sol, canta o nada. Beijo a morte com ardor para curar sua frieza, para me esquecer da vida, ao menos um pouco em mim. Cresci, amadureço na morte. Sem sofrer mais. A ausência da morte é triste. A morte descansa no meu olhar, em vê-la. Ela necessita apenas ser vista. Nada a acrescentar na morte. Tudo desaparece no aparecer. Menos eu. Apareço onde morri: em mim.