Blog da Liz de Sá Cavalcante

Chorar sem alma

Não há nada entre o céu e o mundo: há apenas vida. Vida que foi esquecida ao chorar com alma. Palavras são repouso na alma. É quando algo sai de mim, ficando em mim. O depois da palavra é o silêncio depois a morte. Não há forma de não pertencer a nada, ser feliz onde nem a alegria me pertence: por isso sou feliz, me desapego até do nada. Tudo faria pelo nada, até descobrir que o nada não é minha alma, meu amor: é apenas ausência. A ausência do céu é minha ausência. Não há ausência no real. O real é saudade de mim, do céu, das estrelas, do abismo do céu, que minhas palavras sentem, sem nunca alcançar, como alcança o silêncio de sol. Não há sol de palavras. A escuridão é profunda, o sol não é. O olhar é a escuridão disfarçada de luz. Se não compreende a escuridão, olhe a luz, entenderá. Não se pode viver de luz. A consciência da luz é o não ver, para ser luz. A luz é o fim do tempo, não em mim. Existir sem o tempo, é não ter ausências. Minha presença é mais do que o tempo: sou eu. O tempo não vivido são minhas lembranças.