Blog da Liz de Sá Cavalcante

O som sem o olhar

Fazer da imortalidade da alma uma vida comum é como o som sem o olhar. É a eternidade sem eternidade, é como nunca perder a alma. Nunca perder a alma, é nunca a ter. O som sem o olhar é me permitir o fim, o meu fim. O som sem o olhar é excluir o mundo de mim. Sem mundo, o som se torna o som do nada. O som sem o olhar é a realidade dos teus olhos: afagam minha tristeza. Não há tristeza sem o som do olhar, seja ele real ou imaginário. Eu sou um olhar sem som, que busca no silêncio o amanhecer. Amanhecer são vários sons e nenhum olhar. O som do olhar não se aflige na alma. Não sou resistente à alma. A alma é o meu respirar, nenhum som prejudica o meu respirar, é como se ele viesse antes do som, e o som fosse o cessar do respirar. É como se o som fosse a vida. Não posso respirar perto da vida: seria mediocridade minha. Seria uma afronta à vida.