Blog da Liz de Sá Cavalcante

Afinidade com a morte

A solidão é o outro, sem a morte existe um ser, sem outro ser. Tudo na alma é ser. Alma é a luz da vida. Luz não é vida. Nada é tão só quanto a luz, que se humilha em meu olhar. Parti sem a vida. Sou o que devo partir para ficar comigo em mim. Solidão é presença de Deus. Deus é minha solidão, meu amor. Nada me faz ser eu, nem mesmo a solidão. A solidão é sem imaginação. Na solidão, não imagino ser só, não sou só. Sou só sem solidão. A solidão torna as cinzas um ser. O ser sem cinzas é a morte. A morte é o não da alma. Alma é o sim da vida. Sem alma, o céu é o espelho sem imagem, há apenas o real, sem permanência ou impermanência, é apenas real. O real é mais real que essa dor? A capacidade do céu de me amar me faz sofrer. Sofrer é pior que morrer. Ser só alivia o sofrer, sem eu morrer. Morrer na dúvida de ser é viver. Na vida, na morte, é mesma perda, o mesmo respirar, que me impede de ser. O desespero é fé. Fé que me isola da vida.