Blog da Liz de Sá Cavalcante

Preparar minha alma para minha morte

O céu sem alma é como lembrar de mim. Não sinto meu corpo, sinto a morte, a mim, para minhas mãos serem o céu: o céu da poesia. O céu é onde sou completamente só, sem fugir da realidade. O real morre só, sem a irrealidade da poesia. Eu e a poesia temos almas diferentes: o que nos assemelha são as palavras. O sorrir são as palavras que todos escutam. O silêncio é sorrir por inteiro. Meu sorrir não é perfeito como morrer. Morri mais que a morte, o céu, o infinito: morri para não dizer adeus. Como dizer adeus ao que não sou? Faz parte de mim. Cristais de sonhos tornam-se poeira humana. Fazer tudo pelo infinito é o mesmo que não ter feito nada. Quando a aparência não condiz com o real, há vida. Olho para a lua, a vida volta para mim: é o que consigo ouvir da minha tristeza. É preciso pensar antes de desejar. Não pertence à consciência me fazer morrer. O que é a dor, sendo morrer?! Amo com a agonia do sol. Não há sol na minha alegria. Não dá para ver sem a alma. Rir me faz chorar sempre, como se o meu chorar fosse a eternidade que falta em mim. Assim, preparo a alma para a eternidade.