Blog da Liz de Sá Cavalcante

Amanhecer é insônia de viver

A alma, efêmera, é mais um dia do nada. Nada é o nada. A falta de regras no amanhecer é uma poesia eterna. Qualquer poesia me faz lembrar de mim. Sou quando nada mais é. O silêncio é o interior. Nada se aproxima da realidade de sonhar. Sonho por um sonho. Não por mim. A força da fraqueza é a alma, a morte. Tecer a alma no corpo. Reinventar-me, criando-me, perdendo-me: isso é viver. Criando-me sem me perder, sem perder, as palavras, isso é morrer na delicadeza de ser só, e não se parecer com a vida, é não saber cantar. É o sol ser sempre o mesmo sol, as mesmas palavras, o mesmo sentir, tudo isso é tão só, melhor não existir. Seguro as mãos do sonho, me sinto forte, como se minhas mãos fossem as mãos do sonho. Escrever substitui a alma e se torna o universo. A perda do universo é a dor infinita das minhas mãos que desconsola o nada dentro do sol, sem urgência de viver. A vida torna o amanhecer pesado e o desconsolo leve. Tão leve que morre como o sol, próximo a tudo, e, assim, a alegria se desfez. Apesar de tudo, fui feliz mesmo separando o sol do amanhecer, separando minha poesia do meu amor. Sonhar é transcender. O sonho é acordar da transcendência, como um último sol de nuvem.