Captando o nada, roubo meu ser de mim mesma. Sugando a alma vazia, não estou a sugar o vazio, por isso, estou me sugando no que sou. Tirei o absorver de mim, me entrego ao vazio. Nunca estive na alma, nem quero estar. Quero apenas sorrir para o nada. Ser tudo para o nada. Não vou enterrar minha voz sem o nada. Sem voz, sem alma. Se a alma fosse o nada, a vida seria segura para viver. Invento-me no existir. Não existir é consciência de solidão. É ser livre como o esquecer. Tudo tem fim: menos a consciência, que é o fim do ser. Escrever é o silêncio que não se escuta. A visão da morte é uma visão apenas minha, ao morrer, esta visão se torna minha morte. Eu não preciso ver para saber que ver é real. Não me conformo por ver. Captar o nada é deixar de ver. Por isso, ver é o nada. É o nada que idealizo. O outro nada é a morte. E se a morte for o único nada? De que vive o nada? O ser imaginário ama mais do que eu. Me recuso a ser minha imaginação. Entro dentro da imaginação de Deus, meu tempo é o tempo de Deus. E o tempo de Deus é o amor que sinto. É a permanência do meu ser na alma. Sem alma não vivo. Para amar o ato de escrever, tenho que abandonar a solidão, meu desespero de viver. Fico apenas na poesia. Ela cuida de mim mesmo comigo morta. Não preciso de poesia, a vida nunca será poesia. Não sei como nasce a poesia, por isso é eterna a poesia, e sem identidade. O céu é a acessibilidade da poesia. Será a ausência de Deus o ser que falta em mim? Como a vida perdeu Deus para mim? Pelo meu infinito amor a Deus. O momento não é só, eu torno o momento só com a minha esperança. Se o momento fosse apenas um momento, tudo dependeria da alma, tudo seria eternidade. Não acredito em eternidade, mas acredito na existência da eternidade como sendo a falta de sol, de vida. A vida é um momento meu. Eternidade é o sol no universo na falta do sol. Lágrimas de sol fazem o sol ser a existência de Deus. A sombra do sol é quando a existência de Deus é pouco para Deus, para seu sono eterno.