Blog da Liz de Sá Cavalcante

É tarde

Já é tarde para morrer. Mas não é tarde para lembrar que morri o suficiente para ser eu, para me dar ao céu. O que fiz de mim sem céu? A força de morrer me deixa sem céu. Minha solidão é meu céu, meu refúgio. O céu do nada é a vida. A vida é a impermanência na permanência do nada. A impermanência é por onde vejo e sinto a alma. A impermanência é o mistério da alma. Sem a alma tudo permanece como um vidro quebrado. A permanência é o passado nunca vivido. A permanência é o que restou da alma, da vida. A permanência é a inacessibilidade de ser. O ser tem acesso à permanência, que não sou. Ser é impermanência como quem cala o silêncio com a alma. O vento é o ar, promessa de vida que cessa na esperança. Esperança é o fim da vida. Deus não tem esperança na vida! Sua única esperança é o ser de cada um. Como conviver com a vida? Sem esperança. Sem nada esperar da vida, de mim. Não dá para ser alma, não esqueço de mim, de nós, do não ser em mim. A alma vive, respira, ama, morre por mim, mas não esquece por mim.