Ser percebida não é perceber. Os momentos param diante do sol, da vida, da conquista de viver. Meu ser, lembrança que não me torna eu, algo distante, inacessível, como o tocar do vento na minha pele e ali eu me descobrisse viver. Mas estou aqui, do outro lado do espelho. Momentos despedaçam o céu. Nuvens de ar clareiam o sol e carregam em si todo o esquecimento da vida, causado pelo amanhecer. Momentos são a distância da vida como alma. Essa distância não sou eu, é a vida perto de mim. Encostar na vida para descansar da vida é impossível. Impossível ver com minha alma, a vida. A vida é um amor que não precisa de alma, apenas necessita de tristezas para amar. O sol pesa na alma, é leve em ver. Pelos momentos, descubro o sol sem o amanhecer. A realidade escapa no amanhecer, cria poesia: voar eterno. O que não é pode ser, é a percepção de algo. Se é percebido, esse algo existe na percepção que faço dele. Estou na morte existente, não a percebo. A luz se abre em falta de esperança. Ainda procuro resistir a mim. Ser eu é o fim do que acredito, fim das minhas lutas interiores e exteriores também. Meu ser não pode acabar com a vida. Não é a vida, é a mim que procuro ao soltar meu corpo da vida. Nada posso ter da alma: mesmo assim, ela é minha. A morte é invisível no sentir morrer, é invisível, como ar que se aproxima. O ar é visível no amor. Consertar o nada como nada. Pelo invisível, vou viver. Não consigo ser invisível: vivo como se fosse. Sou invisível para o meu amor. A alma é meu verdadeiro eu: por isso, sou imortal: pela alma. A vida é invariável. O mar se revolta calmo. A monotonia da vida me causa amor. As palavras de sempre me surpreendem de amor: estão sempre dispostas a amar. Não coincido com os meus sentidos: eles são minha morte. O puro sentir é a morte, onde não há distância entre mim e eu. Na morte, acordo para a vida.