Blog da Liz de Sá Cavalcante

Tremeluzir (brilhar)

O amor brilha mais do que o céu. A morte, lençol que me cobre para eu dormir. Alternâncias de luzes são o meu sono, minha paz: é como ter certeza da vida, mesmo que inexistente: sou inexistente na inexistência da vida. Não existir é poético, por isso, não é o fim. Fim é quando cessa a poesia, a tremeluzir, a brilhar poesia. Poesia é o fim de tudo, começo do nada, para tudo ser infinito sem durar no fim. O silêncio não dorme em mim. Quero não ser teu vazio. Não sei se é importante o que falo, mas já me expus. Brilho na opacidade do teu silêncio. Tua inexistência me obriga a existir. Existir é sempre. Me tornei o que represento para mim, mas ainda não sou eu. Existir é continuar no vazio inexistente de não esquecer a vida. O vazio inexistente pode causar minha morte ou me fazer viver. Consigo me ver brilhar no algo da inconsciência, com a escuridão dentro de mim. A morte se acumula em mim. A decadência da escuridão teme a morte como um rastro de luz. O nada é eterno se for real. A irrealidade do nada é o ser. Ser se consome na pele que rompe a barreira do ser. É luz, é sol, é vida na minha morte de estrelas. Eu vivo o nada, vivo a vida, vivo tudo que existe. O silêncio abrange a vida. Tento sentir o silêncio vazio, ele apenas adormece no meu sentir como um apego ao nada. Escrever é o nada íntimo. Meu nada não é o nada de todos: meu nada se traduz em palavras. Eu sei o que o nada é em mim: saudade de ser eu em mim. Escrever é uma lição de vida ou de morte. Nasci sem vida. O mundo criou a vida em mim, e nele mesmo. Nada posso ser na saudade de mim. Na falta de mim, tudo sou. O amanhecer amanhece na ausência, regado sem luz. O sonhar na luz afasta o meu desespero. Nada sofro na luz, na minha consciência. Mas a alma oculta a luz em seu ocultamento. O céu já tem Deus como luz. Viva sem luz e sua alma não se perderá. Não sufoque a luz com um olhar: ela não pode ser vista.