Blog da Liz de Sá Cavalcante

O nascer da alma

O nascer da alma é a falta de céu, de mundo, de ser. Nascer é lembrança da alma. A lembrança de viver se mistura com a alma: surge o nada da plenitude. O céu, as estrelas são pensamentos vivos: não são o céu. O céu é o que amo em Deus: sou eu em Deus. O céu sonha em mim. Sonhar me esvazia dentro do tempo que perdi comigo: poderia viver. O céu é sonhar, é ser irresistível para o sonho, como o despertar de uma estrela no amor. Apenas o amor devolve o sonho ao sonho. Assim, a alma não vai mais nascer. Então nasci pela alma. Não nasci em mim, e sim na alma. Nascer, por mais absurdo que pareça, já é amor pela vida. Esperar o nascer partir é ser eterna para o nascer, ficando no partir do nascer, como se meu ser fosse apenas partir do nascer. O partir do nascer é o sol, a vida. Nascer e ser são opostos que destroem o nada. O não nascer é pele, amor, presença, nunca ausência. A ausência está além da presença. Presença é dormir na eternidade, sem vivê-la. A eternidade é um descanso sem vida. A vida não é um descanso: é alma. Alma é a vigília de Deus. Deus não dorme, ama. Deus não é sua própria ausência. Deus é a ausência, sem ausências humanas. Deus não incomoda a ausência humana. Se a vida é amor, fica apenas em seu começo. Começar de novo no nascer da alma para ser o que não sou, e ser eu sem alma. Pela alma, nada tem alma, apenas a alma tem alma, no infinito de mim. O abismo do vazio é a alegria, o tempo, a convivência, é apenas não me sentir vazia. O abismo é o tempo de viver sem o fim sem nada me restar: então vivo. O nascer da alma é onde o sol se esconde.