Blog da Liz de Sá Cavalcante

Criar eu invento

Invento-me no criar que invento. Clareou o céu branco de cinzas. O céu é o novelo de Deus, se desfaz como Deus. É raro amar em Deus. Invento o criar para me inventar, como tua eternidade, vida. Não me deixe, eternidade. Tenho eternidade: não preciso de mim, de alma. Quero apenas você em mim, minha eternidade: te incorporei: no meu silêncio, na minha presença, na minha ausência, na minha voz, na minha poesia, no meu tudo, no meu nada. Como falar do meu respirar, se não o sinto? O tempo irrespirável um dia vai respirar minha morte e o azul do céu vai cobrir a minha morte de bênçãos. Unida na morte, nada vai me separar de mim. Estarei em mim eternamente, é mais forte que eu. Apareci para a minha ausência. Ela é minha morte absoluta: a pior das mortes. A ausência destrói o céu. Uma coisa é o que sou, outra coisa é o céu, que nunca serei. A alma faz do nada uma verdade. Há verdades desconhecidas. A vida é uma sensação. O sofrer cessa todas as sensações. Nada vive na minha ausência. Para a ausência, não existe vida. A alma um dia terá uma imagem, cor, cheiro, vida, se torna irreconhecível. Algo treme em mim sem alma, sem encantos, sem sonhos: esse é o pulsar da vida.