O nada não me esvazia, por isso tenho ódio ao nada. Meu ser, ao sofrer, não é mais um ser. De alma em alma, vou me esquecendo, cedendo ao nada. A eternidade, tão invulnerável quanto a falta das minhas mãos, mãos que nascem poesias. Partir não é ausência. Decifra-me em ausências misteriosas. Faz nascer a luz divina em Deus. Apenas Deus vê pela minha escuridão. A luz do sol é perda da ilusão, perda de ver. Ver é ilusão que se abraça a si mesmo. O véu esconde o véu como um sol a surgir. O ódio ao nada fez a vida ser só. Não tenho como me esconder do esconder. Falta alma para eu surgir ou desaparecer. A falta da alma me tira do abismo infinito de mim.