Blog da Liz de Sá Cavalcante

Essência

É difícil manter a essência como se pudesse ser um ser. Não há espaço para a essência no ser. Com certeza o ser é sua própria essência. O mundo não tem essência: a essência é da essência. A alma é falta de essência. A essência é um olhar afastado da vida. Em mim, sinto falta da essência na vida, não em mim. Algo me faz viver: talvez eu estou apenas feliz: penso ser a alegria, eu a viver. O tempo nada é para mim. Sou meu próprio tempo. O tempo é o ensurdecer da alma. Pode o penetrar da alma ser o cessar do tempo? O tempo é o vazio sem alma, sem rumo a tomar. Se seguir seu rumo, tempo se perde no cessar. Todo cessar tem um limite. Eu acreditei que cessar fosse vida. A falta é uma ausência perdida no sol da essência. Se meu ser não fosse só, não poderia amar. Amar torna a alma distante: a tocando pela distância que nos separa, percebo o amor da minha alma por mim. Não tocar a alma é ser intocável. Acariciar sem tocar é ausência absoluta. A essência é o vazio inesquecível de tocar, ser tocada, me torna só. Entre dentro da minha alma. Me sentirei abraçada. Sonhar é minha intimidade comigo. Me deixe só como o tocar da alma, solidão sagrada, sem tempo para a sentir, existir. O olhar sente o céu sem vê-lo. A alma tem guerras, silenciosas com ela mesma. Deram um fim ao meu silêncio, com ausências, onde nem o silêncio interior, é permitido. Mas ainda não morri: tenho essência: ela faz morrer ou viver. O transbordamento da alma, sou eu a morrer. O sol foi destruído na morte, na noite da morte. A morte me acolhe com um único e derradeiro olhar. Preciso desse olhar para morrer.