Blog da Liz de Sá Cavalcante

Sem alternativa

Que opção tenho, além de viver? O que falta à saudade para ela existir? Posso existir na saudade? Qual saudade permanece em saudade? O que a saudade fez pela vida? Torna-a humana. Que lembrança a saudade me traz? Não sei, mas a saudade é como o mar: sem destino: olhos abertos, como sombra sem vida. A vida é o que partiu sem nunca ser. Ser destrói o amor. Amando, a vida se refaz. Nada oculta o raciocínio: ele é sem ser. Partir do céu é não existir, nem como estrela. A estrela não existe para o céu, vive no céu, na distância dos abraços transcendentais. Deus abraça a si mesmo, na falta de vida, do conforto de ser amado. Sem Deus, estamos em nós, nascemos mortos. Esse nós é Deus. Tudo desperta a ausência. Se a vida é minha ausência, não sou ausente: sou a espuma do vento. Sou a tua liberdade de nada ser. Onde está Deus na minha liberdade? Na falta de Deus? A falta de Deus é Deus. Se não há falta de Deus, como Deus criou a si mesmo? Criar é falta de algo no que se criou. A criatividade é amor. A lembrança é o fim do amor, com ele morto antes do fim? O que posso esperar do amor? Que a poesia se encante com meus dedos? Que o sorrir, sendo eterno, escape dos meus dedos, me torne um ser. A poesia sorri sem sorrir. A alma se foi sorrindo para as poesias. As poesias aprendem a sorrir. Sonho sorrir poesia. O sorrir devolve as lágrimas, sua vida. Preciso das lágrimas em mim, mesmo a sorrir. A paz é apenas um instante perdido sem amor. A fala ama no que o ser não lhe sente. O ser vive sem a fala: no amor. A fala sem amor ama. Não há passagem para um espírito dentro de mim. Ou sou um ser ou não sou nada.