Nada se compara a uma tristeza bem vivida. Nasce um abismo de luz, de dentro de mim. Um sopro, uma voz, uma ausência me fazem viver. O outro é a vida que não tenho. Abismo sem luz é o mesmo que vida sem morte: é triste, penoso. Se não calo minha voz de poesia, minha ausência me escuta como alma, me faz falar poesia. Poesia, me diga quem é, mas sem me fazer viver. Mas sempre a nascer no abismo de luz. O abismo me conforta das flores do tempo. Consertar o tempo na realidade de viver. Não há o que chorar sem poesia: a poesia é o único sorrir, a única lágrima que não estremece de amor, pois é amor. O amor falta a realidade. A morte depende das coisas vivas, como o renascer das trevas. Renascer me separa das vísceras da morte em uma relação visceral. O abismo de luz se afasta das trevas de luz. A morte não afasta o ser da luz, da ambição de viver. Viver é ser sempre. O sempre na luz é o nada. O nada me emociona, da mesma forma que a vida me emociona. Haja emoção! Tudo que vem da palavra me interessa: pode ser um grão de areia no deserto da saudade, vale a pena: é reviver o nada num sorrir de tudo.