Blog da Liz de Sá Cavalcante

O respirar ausente

O que sou para o nada? Um respirar ausente? Não é possível que o nada não sinta meu respirar. Se o meu respirar ofega dentro de ti, me ame. É a morte ou o respirar de verdade? Ainda me escuto: pode ser apenas a ausência da minha vida, pode ser minha respiração, pode ser eu a falar da minha morte. Falar da minha morte me faz sentir menos morta. A transferência da realidade para o sonho é a perda da alma. Perde-se o sonho na eternidade do corpo. A eternidade do meu corpo é sua sombra em mim. Mostro com a morte meu olhar, mas não lhe mostro meu fim, minha essência. Minha essência é minha incerteza, me faz amar. Meu fim nem a morte conhece. O agora é sem vida, é plenitude. A alegria que vem da morte é interiorizada: não é um respirar ausente. Não tenho condições de respirar: respirar é tão forte, frágil, é presença. Me escapa em céu de amor, que também é agonia. Respiro, não sei o que estar viva: o corpo não respira mais, a alma respira. Voltar ao passado não me faz ter alma. As brechas de luz são o sol, a vida. O silêncio aquece o sol. O ser é a única essência vazia. As lágrimas do vazio são a morte. O respirar ausente me ensina a falar, a amar, a viver.